Domenico De Masi, sociólogo criador do ‘ócio criativo’, morre aos 85 anos
O sociólogo italiano Domenico De Masi, criador do ‘ócio criativo’ morreu aos 85 anos, em Roma. Ele tinha uma doença em estágio terminal, mas a causa da morte não foi informada. Ele deixa sua mulher, Susi Del Santo.
De Masi escreveu em sua teoria que o tempo livre não é algo negativo, mas imprescindível para estimular a criatividade individual e aprimorar a adaptação na sociedade globalizada e pós-industrial, marcada pelo rápido crescimento tecnológico e do setor de serviços.
A prática do “ócio criativo”, dizia ele, seria possível de alcançar por meio da união de outros três conceitos —o trabalho, caracterizado pelo cumprimento de tarefas necessárias; o estudo, através das ferramentas proporcionadas pela digitalização; e o “jogo”, isto é, o lazer necessário para evitar a mecanização do trabalho.
“É pelo trabalho que produzimos riqueza, pelo estudo que produzimos conhecimento e pela diversão que produzimos alegria. Ócio criativo é a união desses três fatores”, escreveu De Mas
O sociólogo nasceu em Rotello, uma pequena cidade da região de Molise, no sul da Itália. Começou a escrever aos 19 anos sobre sociologia do trabalho e estudou em Paris às vésperas do Maio de 1968, um movimento político na França marcado por greves e ocupações estudantis que impulsionou a politização da juventude.
Mais tarde, De Masi lecionou na renomada Universidade de Roma La Sapienza. Na Itália, o sociólogo influenciou a criação da renda básica de cidadania, em 2019, beneficio destinado a famílias de baixa renda que inspirou ações do partido Movimento 5 Estrelas.
Nas redes sociais, Giuseppe Conte, ex-premiê da Itália e atual presidente da sigla, lamentou a morte do sociólogo.
“Não é possível resumir em poucas linhas a profunda humanidade, o refinamento intelectual, a energia vital, a coragem e o amor pelo conhecimento de Domenico De Masi”, disse.
Descrito como “sociólogo dos trabalhadores” pela imprensa italiana, De Masi não se esquivava de debates políticos. Em 2019, quando seu país via a escalada do populismo pela figura do político de extrema-direita Matteo Salvini, o sociólogo escreveu que “o populismo nada mais é do que uma explicação primitiva da sociedade e da política em termos rudes, emocionais, míticos, infantis, desleixados e que leva as pessoas de volta a uma fase anterior ao Iluminismo.”
De Masi defendia que a Itália deveria voltar a investir na formação gratuita de jovens através da eliminação das taxas universitárias, com o objetivo de diminuir os índices de criminalidade das regiões menos abastadas do país e promover o aumento do número de eleitores.
“[Na Itália], ainda cometemos um erro: o diploma não serve para encontrar trabalho. Pode até ajudar, mas serve especialmente para formar cidadãos e permitir que ele entenda o telejornal. Antes um desempregado com diploma do que um desempregado sem diploma”, afirmou em entrevista ao jornal Il Manifesto, em 2016. “Precisamos investir em inovação e pesquisa. Ou a Itália muda, ou estamos condenados ao terceiro mundo.”
Fonte: Folhapress
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