Alta no petróleo impulsionada por conflito no Irã gera incerteza no mercado global
Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que a cotação do petróleo deve seguir em alta nos próximos dias devido ao acirramento do conflito entre Estados Unidos e Irã, especialmente após a aprovação do fechamento do Estreito de Ormuz pelo Parlamento iraniano. Ainda assim, eles destacam a dificuldade de prever por quanto tempo essa tendência se manterá.
Impacto do conflito no mercado de petróleo
Na manhã de ontem, o preço do barril de Brent, referência internacional, subiu 5,7%, atingindo US$ 81,40. Há um mês, a cotação não passava de US$ 64, o que evidencia a forte reação do mercado diante do risco de interrupção no fluxo de exportações de petróleo pelo estreito, uma das rotas mais estratégicas do planeta.
“Se as exportações pelo Estreito de Ormuz forem afetadas, podemos facilmente ver o petróleo chegando a US$ 100 por barril”, alertou Andy Lipow, presidente da Lipow Oil Associates. Analistas do JPMorgan previram que, em caso de conflito mais intenso, os preços até poderiam atingir US$ 120 ou US$ 130, o que impactaria diretamente o preço da gasolina e do diesel nos Estados Unidos, com potencial de alta de até US$ 1,25 por galão (cerca de R$ 6,85).
Reações do mercado financeiro e possíveis desdobramentos
Segundo o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central Tony Volpon, a atual escalada deve impedir que bancos centrais, como o Federal Reserve e o Banco Central do Brasil, considerem cortes nas taxas de juros enquanto o quadro de estabilidade não estiver consolidado. “Qualquer discussão sobre redução de juros será postergada até a inflação e o cenário se tornarem mais claros”, afirmou ao GLOBO.
O conflito também levou o Parlamento iraniano a aprovar o bloqueio do Estreito de Ormuz, uma rota crucial para cerca de 30% do petróleo mundial e 20% do gás natural liquefeito (GNL), segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE). Ainda é necessário o aval do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, para que o bloqueio seja efetivado.
Perspectivas econômicas e geopolíticas
Analistas afirmam que, apesar da imprevisibilidade, o mercado deve manter cautela. “Apesar das altas recentes, a vulnerabilidade do cenário geopolítico é evidente, e qualquer movimento de retaliação pode escalar a crise”, destaca Helder Queiroz, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ. Para ele, uma alta de US$ 5 a US$ 10 no preço do barril na próxima semana não surpreenderia.
David Zilberstajn, professor da PUC-Rio e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), lembra que o petróleo já foi cotado acima de US$ 100 diversas vezes e que as economias têm suportado esses altos preços. “O problema é a questão política e geopolítica, que tende a gerar reação e rearranjos na oferta”, afirmou.
Desdobramentos e possíveis ganhos para o Brasil
Segundo Queiroz, o aumento no preço do petróleo pode beneficiar a arrecadação de royalties para o Brasil, além de melhorar a balança comercial do país. No entanto, ele alerta que o aumento também pressionará a inflação, forçando a Petrobras a repassar reajustes nos preços dos combustíveis.
De acordo com especialistas, a complexidade do cenário exige cautela e acompanhamento constante dos desdobramentos internacionais, que podem impactar desde a inflação até as estratégias de política monetária no Brasil e no mundo. “Ainda é cedo para definir a extensão e a duração desse aumento, mas os riscos de curto prazo estão claramente evidentes”, concluiu Queiroz.
Para entender mais sobre o impacto do conflito, veja também: Como um Irã encurralado pode causar um caos no comércio global de petróleo.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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