Diretor da Abin atuou ilegalmente e ajudou a proteger responsáveis por degradação, diz PF
Um relatório final da Polícia Federal (PF) acerca da investigação envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), denominado “Abin Paralela”, trouxe à tona graves acusações contra Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da agência. Segundo o documento, Corrêa exerceu a função de diretor ilegalmente durante meses, antes de sua nomeação oficial, e também atuou para proteger Paulo Maurício Fortunato Pinto, ex-número 3 da Abin, considerado um dos principais responsáveis pela degradação do órgão.
AÇÕES ILEGAIS E OBSTRUÇÃO DA JUSTIÇA
O relatório destaca que durante o período em que atuou de forma irregular como líder da Abin, Luiz Fernando Corrêa participou de reuniões estratégicas e teve acesso a informações sigilosas que claramente visavam obstruir a investigação de uma organização criminosa no interior da agência. A PF informa que uma das primeiras ações de Corrêa foi minimizar o escândalo sobre o uso clandestino do sistema FirstMile, sugerindo que a situação era de pouca importância.
Proteção a servidores e estratégias de defesa
Segundo as investigações, Corrêa e outros diretores se uniram para proteger Paulo Maurício Fortunato Pinto, que já estava sendo investigado. Em março de 2023, Corrêa participou de uma reunião crucial onde o objetivo era obstruir a investigação da PF. Na ocasião, já havia um inquérito instaurado e a polícia havia requisitado os nomes dos servidores que operavam o sistema FirstMile.
Documentos da PF revelam que correu a ideia de que a entrega dos nomes à polícia poderia acarretar “buscas e apreensões” e que estava em jogo a “fritura” de alguns servidores em relação à autoridade policial. A investigação relata que havia “acordos e entendimentos internos” estabelecidos entre os diretores para garantir um discurso unificado durante as oitivas, dificultando assim qualquer colaboração espontânea dos servidores com a Justiça.
Desacreditação das investigações e chantagens
A PF também ressalta que a alta direção da Abin agiu para desacreditar o inquérito, classificando-o como um ataque político. O diretor-geral chegou a sugerir, de forma agressiva, a intervenção na corregedoria da Abin durante a investigação, o que demonstra um claro intento de obstruir o trabalho dos investigadores.
Colaboração da Abin com as investigações
Apesar das acusações, um comunicado divulgado pela Abin em janeiro de 2023 afirmava que a instituição era “a maior interessada” na apuração dos fatos. A agência disse que vinha colaborando com os inquéritos da PF e do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar possíveis irregularidades envolvendo o uso da ferramenta de geolocalização entre 2019 e 2021. Entretanto, essas afirmações contrastam com a realidade apresentada no relatório.
O uso do e-mail espião
Além de suas ações ilegais, Luiz Fernando Corrêa também foi acusado de permitir o uso de um e-mail espião que invadiu computadores de autoridades paraguaias, incluindo a presidência e o congresso do país, em uma ação descrita por um agente da Abin durante seu depoimento à PF. O objetivo era obter informações sobre a venda de energia pela usina de Itaipu, um tema que envolve complexas triangulações entre Brasil e Paraguai.
Primeira revelação sobre o uso do sistema FirstMile
O uso do software espião FirstMile foi inicialmente revelado pela imprensa em março de 2023, onde se especulou que a Abin montou uma rede clandestina de espionagem. Investigadores do caso indicam que a ferramenta foi utilizada para monitorar adversários políticos do governo anterior, sem nenhuma autorização judicial.
Dessa forma, o relatório final da PF não apenas coloca em xeque a atuação de Luiz Fernando Corrêa à frente da Abin, mas também revela uma rede complexa de obstruções às investigações que buscam restaurar a integridade da agência. Com o avanço das apurações, espera-se que mais informações venham à tona, trazendo à tona detalhes sobre a realidade da inteligência brasileira.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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