Tarifas de Trump moldam nova ordem comercial global
Nos últimos seis meses, os Estados Unidos abandonaram a antiga ordem comercial global, que prevaleceu por décadas, em favor de uma estratégia de tarifas elevadas e negociações mais protecionistas. Essa mudança tem causado ajustes em economias sólidas como a União Europeia e o Japão, que concordaram em aceitar tarifas mais altas para evitar guerras comerciais prejudiciais e pressionar os EUA a reduzir as tarifas cada vez mais altas.
Ascensão das tarifas e o impacto no comércio global
À medida que as principais economias se unem para firmar acordos com tarifas recordes, a visão de Donald Trump para o comércio ganha forma. Outros países têm aceitado tarifas de 15% a 20% para manter relações comerciais com os Estados Unidos, enquanto tarifas maiores, sobretudo sobre produtos essenciais, como aço, e países como a China, estão sendo aplicadas com força.
Segundo analistas, esse novo normal usa a economia americana como alavanca, demonstrando que as ameaças tarifárias, mesmo as mais extremas, podem ser uma poderosa ferramenta de barganha. Nigel Green, CEO do deVere Group, afirmou que o mercado tem reagido de forma mais serena do que o esperado às tarifas, indicando uma espécie de “reboot” no cenário econômico internacional.
Reação do mercado e desafios econômicos
Enquanto isso, o mercado mostra sinais de adaptação, com avaliações mais moderadas do impacto das tarifas. “Um ano atrás, os mercados teriam recuado; hoje, estão apenas aliviados por algo ter sido menos prejudicial do que o esperado”, afirmou Green. No entanto, os efeitos econômicos completos ainda estão por se revelar, já que as tarifas levam de seis a 18 meses para se manifestar totalmente na cadeia de suprimentos.
Apesar do otimismo, o governo Trump realizou um experimento econômico sem precedentes, com tarifas que, em muitos casos, ultrapassam 20%, valores normalmente utilizados por nações em desenvolvimento para proteger indústrias emergentes. Economistas alertam que isso pode desacelerar a economia, elevando preços e prejudicando tanto empresas quanto consumidores.
Consequências econômicas e críticas
Empresas como General Motors e Volkswagen já relataram perdas superiores a US$ 1 bilhão em decorrência das tarifas. Especialistas como Diane Swonk, da KPMG, explicam que esses custos se refletem em preços mais altos para bens de consumo, afetando principalmente eletrodomésticos, roupas e brinquedos neste outono.
Além disso, as tarifas visam incentivar a produção local e criar empregos, mas muitos economistas permanecem céticos quanto à eficácia dessas medidas na redução do déficit comercial dos EUA, que ainda representa uma preocupação central para o governo. Estudos indicam que tarifas podem ter impacto limitado na balança comercial total, especialmente se prejudicarem a economia e reduzirem o gasto dos consumidores.
Incertezas e o futuro do comércio
O cenário permanece incerto, pois os acordos firmados por Trump ainda não são definitivos para um vasto conjunto de parceiros comerciais. Segundo o Goldman Sachs, cerca de 56% das importações americanas de países como Brasil, Canadá, México, Coreia do Sul e Índia ainda aguardam negociações formais.
Autoridades americanas sinalizam que novas tarifas podem ser impostas sobre semicondutores e produtos farmacêuticos em breve, potencialmente redirecionando ainda mais o trajetória do comércio exterior dos EUA. Analistas alertam que esses ataques tarifários, embora possam gerar ganhos políticos, têm potencial de desacelerar ainda mais a economia global.
Reações internacionais e acordos futuros
Enquanto o cenário de tarifas elevadas é consolidado, acordos recentes, como o entre União Europeia e Mercosul, indicam uma tentativa de estabilizar o comércio internacional. A assinatura do acordo, após 25 anos de negociações, prevê a criação de um mercado comum de mais de 700 milhões de pessoas, com um PIB de US$ 22,3 trilhões, embora receios sobre os benefícios reais persista também na Europa.
Especialistas como Stephen Olson criticam o acordo UE-Mercosul por ser altamente protecionista, refletindo a visão mercantilista de Trump, enquanto outros alertam que novas tarifas e ameaças constantes podem desvalorizar a retomada do comércio global já em meio a desafios econômicos e políticos.
Perspectivas e riscos para a economia dos EUA
Apesar das vitórias políticas aparentes, o impacto econômico das tarifas permanece questionável. Com tarifas que atingem valores maiores do que os usados historicamente por países em desenvolvimento, há o risco de desacelerar o crescimento dos EUA, especialmente se a guerra comercial se prolongar ou se novas tarifas forem implementadas em setores estratégicos.
Economistas como Brad Setser destacam que, embora as tarifas possam ser suficientes para desacelerar a economia, dificilmente provocarão uma recessão. Ainda assim, consumidores e pequenas empresas sentirão o peso do aumento de preços, principalmente em produtos importados de países asiáticos com tarifas de até 30%.
Por fim, muitos especialistas consideram que, apesar de eventuais acordos, o cenário de guerra tarifária de Trump continuará gerando incertezas — com impactos limitados na redução do déficit comercial e com a possibilidade de novas tensões comerciais no horizonte.
Fonte: O Globo
Com informações do Jornal Diário do Povo
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