Tarifa de 50% nos EUA deve reforçar primarização das exportações brasileiras
Com a possibilidade de a tarifa de 50% passar a vigorar nos Estados Unidos a partir de 6 de agosto, especialistas alertam que as commodities, como soja, milho, café e petróleo, podem ganhar ainda mais espaço nas exportações brasileiras. Atualmente, esses produtos representam 67% do total das vendas ao exterior, uma fatia que tende a crescer diante do cenário de elevada proteção comercial.
Impacto na diversificação das exportações brasileiras
Segundo dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), os EUA absorvem atualmente 12,1% das exportações brasileiras, uma queda significativa em relação aos 24,4% de 2001, reflexo da emergência da China no mercado global. Com a implementação da tarifa, setores como aço, aeronaves, sucos vegetais e escavadeiras, principais compradores de produtos brasileiros, podem passar a depender ainda mais das commodities primárias.
Setores mais afetados e exceções na tarifa
A lista de produtos isentos de sobretaxa, publicada na semana passada, inclui aeronaves e peças de aviação, o que favorece a fabricante brasileira Embraer ao aliviar parte da pressão. Entretanto, a tarifa mínima de 10% prevista na proposta de Trump, que já dificultou a competitividade de produtos industrializados brasileiros, continuará vigente nesse contexto de exceções.
Navegando por esse cenário, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que setores como o de transporte, que responde por 22,1% das exportações e tem como destino os EUA, poderão sofrer retração de até 22,3% nas vendas devido ao aumento de custos. Além disso, segmentos como café, carnes e máquinas, que não entraram na lista de exceções, permanecem vulneráveis diante da nova política comercial americana.
Concentração nas commodities e desafios do mercado global
Especialistas como Lia Valls, pesquisadora do FGV Ibre, destacam que esse movimento de primarização das exportações pode ser agravado por restrições globais e pela política de restrição aos mercados da China, maior destino de produtos brasileiros. Ela explica que a cadeia de produção de itens como máquinas e alimentos não permite uma rápida substituição de mercados e reforça a vulnerabilidade do Brasil diante de mudanças abruptas na política comercial internacional.
Além disso, o professor Marcos Jank, do Insper, aponta que os preços de produtos do Brasil tendem a subir nos EUA, enquanto no mercado mundial, sobretudo em commodities, espera-se uma redução de volume e preço. Essa dinâmica deve ocasionar uma retração das exportações e aumento da dependência de produtos primários.
Consequências estratégicas e respostas do Brasil
O diretor de pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Tulio Cariello, observa que Pequim acelerou a diversificação de suas importações desde o início do governo Trump, com maior foco em commodities brasileiras, como petróleo, soja e minério de ferro. Essa estratégia se mantém frente à política protecionista de Washington, reforçando a primarização das exportações brasileiras e dificultando a inserção de produtos manufaturados.
Enquanto isso, outros setores, como o de alimentos, já enfrentam aumento de preços no Brasil, conforme alerta de associações de consumidores, refletindo o impacto da tarifação nos preços internos. Ainda assim, a reorganização das cadeias globais de produção, impulsionada por conflitos internacionais e a busca por fornecedores mais próximos geograficamente, pode criar novas oportunidades para as commodities brasileiras na retomada do comércio internacional.
Para mais detalhes sobre os desdobramentos da política tarifária e seus efeitos na economia brasileira, acesse este link.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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