Sem diálogo, a democracia brasileira está decolando

Quase cinco anos após sua estreia no GLOBO, esta coluna reflete sobre a importância do diálogo na vida pública brasileira. O tempo, embora curto na duração, revela mudanças profundas na sociedade, na tecnologia e na política, muitas delas positivas, mas outras extremamente preocupantes, como a perda da tolerância e do protagonismo democrático.

O desafio de recuperar o espaço do diálogo

Para o filósofo romano Cícero, a república só funciona quando diferentes compartilham um espaço de convivência pautado pelo respeito às leis e pela escuta mútua. A essência da vida pública, segundo ele, não é a unanimidade, mas o reconhecimento da pluralidade de opiniões. Hoje, esse princípio está ameaçado pelo crescimento do extremismo e da polarização, que transformaram o debate político em uma batalha de ideologias irreconciliáveis.

Diálogo na política e na economia

Na esfera política, a dificuldade em estabelecer pontes entre posições opostas tem fragilizado a democracia. Roberto Azevedo, ex-secretário-geral da OMC, alerta que o Brasil precisa buscar diálogo com os Estados Unidos em todos os níveis para avançar em acordos comerciais e estratégicos (Fonte). Na economia, o cenário de inflação elevada, juros altos e dívida pública crescente demanda decisões difíceis que só podem ser superadas por um debate aberto e construtivo, e não pela polarização que domina a disputa por espaço público.

O risco, como aponta a própria história, é o afastamento das soluções reais, substituídas por soluções mágicas que atendem às polaridades extremas, sem buscar o bem comum. A fragmentação do diálogo também se evidencia na esfera social, onde a intolerância e a violência crescem, dificultando avanços em pautas urgentes, como saúde, educação e segurança.

O papel do Estado e os limites do populismo

No campo econômico, a disputa entre austeridade e gasto social tem gerado discursos simplistas, que dificultam a implementação de políticas públicas eficazes. A necessidade de responsabilidade fiscal é contraposta ao desejo de atender aos mais pobres, numa lógica de populismo que nega a complexidade das soluções para a desigualdade.

Segundo análises recentes, há um esforço para reduzir as distorções fiscais e as vantagens indevidas, incluindo a revisão de privilégios históricos, como a pejotização e subvenções fiscais injustificadas (Fonte). Ainda assim, o ambiente de polarização dificulta esse debate, que deveria ser pautado pelo pragmatismo e pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável.

Os riscos da politização das decisões econômicas

Utilizar a polarização para justificar aumentos de impostos ou cortes de gastos essenciais enfraquece a gestão pública e prejudica quem mais precisa. A busca por soluções equilibradas, capazes de unir responsabilidade fiscal com inclusão social, depende de um diálogo maduro e aberto, algo que atualmente parece ausente no cenário nacional.

A importância de fortalecer a democracia pelo diálogo

Para o filósofo Cícero, tolerar o diferente é a base da vida democrática. Isso exige maturidade cívica e um espaço público republicano onde múltiplas vozes coexistam sob regras compartilhadas (Fonte). Quando o diálogo é substituído por grupos de interesse e polarizações inférteis, a res publica dá lugar à res privata, onde o interesse de poucos prevalece às expensas do bem comum.

Por isso, é urgente reconstruir esse espaço de deliberação pública, que não significa consenso, mas respeito às regras do bom debate, mesmo quando as posições não se modificam. Como afirma o próprio Cícero, o governo das regras permite que o dissenso exista, fortalecendo a democracia.

Sem diálogo, a alternativa é o aumento do desprezo pelo outro, a prisão de ideias e o isolamento das bolhas ideológicas. Por isso, retomar a cultura do debate público, respeitoso e construtivo, talvez seja o maior desafio político e social do Brasil neste momento (Fonte).

Com informações do Jornal Diário do Povo

Share this content:

Publicar comentário