Ronaldo Caiado propõe anistia ampla ao 8 de janeiro; João Campos critica

Em um debate promovido pelo GLOBO nesta sexta-feira, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), acendeu polêmicas ao afirmar que, caso eleito presidente, sua prioridade seria implementar uma “anistia ampla, geral e irrestrita” para os envolvidos nos tumultos de 8 de janeiro e no inquérito sobre a tentativa de golpe. Essa medida, ao que parece, beneficiaria diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A proposta gerou objeções, especialmente por parte do prefeito do Recife, João Campos (PSB), que denunciou um possível “viés de impunidade” na anistia.

Anistia e comparações históricas

Durante sua participação no evento, mediado pela jornalista Vera Magalhães, Caiado justificou suas intenções ao comparar a situação atual a atos de perdão realizados pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, que anistiou parte dos militares envolvidos em revoltas durante sua administração nos anos 50. Ele enfatizou que a pacificação é essencial para a governança e o respeito mútuo entre os poderes:

— Quando o Lula ganhou e disse, a primeira coisa que disse foi “vou pacificar o país”. É o que eu digo. Se eu assumir o governo, a primeira coisa que vou fazer é anistiar todo mundo. Igual Juscelino fez, e com situações mais graves do que essa, em que realmente havia uma tentativa de derrubá-lo — declarou Caiado.

Resposta de João Campos

Em oposição, João Campos criticou a proposta de anistia amplamente:

— Tenho visão contrária, não é o caminho. Em relação ao que se trata de anistia do 8 de janeiro, é ter clareza entre quem liderou, planejou e quem foi massa de manobra. Anistia ampla pode construir viés de impunidade. É preciso seguir as leis — defendeu Campos, ressaltando a importância da responsabilização pelos crimes cometidos durante os atos de 8 de janeiro.

A omissão e o culpado

O debate também abordou questões relacionadas à responsabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante os ataques às instituições em janeiro. Caiado sugeriu que Lula “pecou por omissão” ao não tomar atitudes mais enérgicas. Campos rebatendeu, afirmando que:

— Quem quebrou instituição pública tem que ser punido. Não dá para culpar o presidente da República e defender anistia a quem ali estava — afirmou o prefeito de Recife, defendendo que a justiça deve prevalecer para os envolvidos nos atos.

Caiado e o movimento dos Sem Terra

O governador de Goiás também fez comparações às ações do Movimento dos Sem Terra (MST), insinuando que a falta de punição a seus integrantes se assemelha à situação dos que participaram dos eventos de janeiro:

— Então por que o MST nunca foi punido? Como era a frase do Padre Cícero: daqui para frente, não perdoar mais ninguém. Vamos perdoar o passado. — declarou Caiado.

A crise e  interesses políticos

Além das propostas de anistia, Caiado sugeriu que o prolongamento da crise gerada pelo tarifaço dos Estados Unidos sobre exportações brasileiras interessa ao governo Lula, uma crítica que foi rapidamente contestada por Campos, que defendeu a atuação do governo federal na tentativa de buscar soluções.

A série Diálogos O GLOBO, que visou reunir líderes de diferentes espectros políticos para discutir temas relevantes, também abordou o cenário atual, onde ambos os representantes, apesar de divergentes, expressaram preocupações sobre a direção política do país.

A abertura do ciclo de debates foi feita na última segunda-feira, com o encontro entre o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSD), que mudaram o foco para críticas a pautas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como a questão da anistia e a necessidade de corte de gastos no governo atual.

As falas de Caiado e Campos revelam o campo político acirrado que o Brasil enfrenta, onde a busca por soluções para crises passadas e atuais continua em debate entre diferentes lideranças e correntes ideológicas.

Da Redação

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