Governo brasileiro teme recuo da UE na assinatura do acordo Mercosul

O governo brasileiro expressa preocupação com a possibilidade de recuo da União Europeia na assinatura do tratado de livre-comércio com o Mercosul, marcada para sábado (20/12) em Foz do Iguaçu, durante a cúpula de chefes de Estado do bloco. A semana que vem será decisiva, pois o acordo precisa ser aprovado nas votações do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu, entre 16 e 18 de dezembro, para avançar.

Desafios na assinatura do acordo entre UE e Mercosul

Duas fontes com conhecimento das negociações confidenciaram à BBC News Brasil que, se o acordo não for assinado agora, pode significar o fim das negociações iniciadas há 25 anos. Segundo esses diplomatas, a não assinatura reduz drasticamente as chances de reabrir o diálogo no futuro, e o Brasil, maior economia do Mercosul, deverá intensificar sua busca por parceiros comerciais na Ásia, especialmente na China.

Histórico e objetivos do acordo

Desde 1999, o tratado busca criar uma das maiores áreas de livre-comércio do mundo, envolvendo aproximadamente 718 milhões de pessoas, com Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22 trilhões. A intenção é reduzir tarifas e aumentar o fluxo de bens entre ambas as regiões, promovendo maior integração econômica.

Avanços e obstáculos na ratificação europeia

Na semana passada, diplomatas ouvidos pela BBC destacaram que a aprovação do acordo pelo Parlamento Europeu é prevista e tranquila, pois se dá por maioria simples. No entanto, o obstáculo maior está na votação do Conselho Europeu, onde a decisão requer uma maioria qualificada, ou seja, pelo menos 15 Estados-membros que representem 65% da população do bloco, estimada em 451 milhões de habitantes.

Resistências na União Europeia

O apoio no Mercosul é unânime, mas na Europa ainda há forte resistência, principalmente de França, Polônia, Bélgica e Áustria. Os franceses, por exemplo, temem impacto sobre os agricultores locais, ameaçados pela concorrência de produtos sul-americanos.

Salvaguardas e votações decisivas

Para mitigar as resistências, negociações europeias criaram salvaguardas que permitem interromper vantagens tarifárias se houver aumento de 5% nas exportações do Mercosul em relação ao ano anterior. Essas salvaguardas deverão ser votadas pelo Parlamento Europeu na próxima semana, com a Itália sendo o elemento-chave, pois sua posição poderá decidir a aprovação ou rejeição do acordo.

Embora a Itália tenha sinalizado apoio ao tratado, o clima de cautela persiste, uma vez que uma eventual negativa junto à França e Polônia comprometeria toda a ratificação, considerando que juntos representam cerca de 36% da população do bloco.

Consequências de um possível recuo europeu

De acordo com auxiliares do governo brasileiro, uma eventual rejeição europeia refletiria a fragilidade das lideranças do bloco, prejudicando a projeção de uma parceria mais equilibrada em meio ao cenário internacional, especialmente diante da crise do multilateralismo. Nesse contexto, o Brasil já prepara sua estratégia de busca por parceiros na Ásia, com destaque para a China, que adquiriu US$ 94 bilhões em produtos brasileiros em 2025, ultrapassando a soma de US$ 45 bilhões negociados com a UE.

Para o governo brasileiro, o fracasso no acordo com a UE pode redirecionar seus esforços comerciais para outras regiões, fortalecendo alianças na Ásia e buscando expandir a presença brasileira no mercado mundial, diante de um cenário global de incertezas econômicas.

Com informações do Jornal Diário do Povo

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