Eucalipto no Cerrado seca nascentes e expulsa pequenos produtores
Autoridades e agricultores do Mato Grosso do Sul alertam que o boom de plantação de eucalipto na região está causando a secagem de nascentes e dificultando a agricultura de subsistência. Desde 2013, agricultores como Adilso Cruz enfrentam a redução de rios e a perda de água superficial, afetando a produção e os seus rendimentos.
Impacto ambiental e social do cultivo de eucalipto
Segundo Adilso Cruz, fazendeiro de 46 anos do assentamento Alecrim, a escassez de água começou há cerca de dez anos, coincidindo com o crescimento das plantações de eucalipto. “Os riachos que funcionavam o ano todo começaram a secar, e a água demora para encher novamente”, relata Cruz, que também precisou vender uma parte de seu gado, tendo uma redução de aproximadamente 45% na renda familiar.
Estudos liderados pelo vice-secretário de Meio Ambiente de Selvíria, Valticinez Santiago, indicam que as nascentes próximas às plantações de eucalipto, localizadas a 50 metros, o mínimo legal, foram severamente degradadas ou secaram completamente. Santiago explica que imagens de satélite mostram a necessidade de ampliar a zona de proteção ao redor dessas fontes de água, aumentando de 50 para 500 metros de área de amortecimento.
A expansão das plantações e sua regulamentação
Nos últimos 15 anos, a área de eucalipto no Mato Grosso do Sul quadruplicou, passando de cerca de 375 mil hectares em 2010 para 1,6 milhão de hectares em 2025. Em maio de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que elimina a necessidade de licenças ambientais para o cultivo de eucalipto, facilitando o avanço do setor.
De acordo com Valticinez Santiago, essa legislação dificulta o acesso de órgãos ambientais às terras privadas para fiscalização e avaliações de impacto, uma vez que a autorização judicial é necessária para entrar nas propriedades. Grande parte dessas fazendas — cerca de 90% — pertence a bancos de investimento e empresas estrangeiras, como Apple, Meta e Microsoft, que investem na planta para compensar suas emissões de carbono.
Críticas à sustentabilidade da plantações de eucalipto
Críticos afirmam que o eucalipto não é eficiente para o sequestro de carbono, pois as árvores são colhidas a cada seis anos para produção de celulose, papel higiênico e papelão, liberando rapidamente o carbono armazenado na atmosfera. Além do impacto ambiental, a expansão das fazendas ameaça a vida dos pequenos agricultores, que perdem suas terras e fontes de renda, muitas vezes tendo que trabalhar para as próprias empresas que destroem sua agricultura tradicional.
Adilso Cruz relata que metade das famílias já deixou o assentamento, e os poucos que permanecem enfrentam dificuldades extremas: “Estamos lutando para sobreviver. Muitos veem seu sonho desmoronar e se sentem obrigados a se resignar, enquanto suas terras, que lutaram para conquistar, são tomadas por interesses externos”.
Perspectivas futuras e desafios
Especialistas alertam que o aumento da área de eucalipto sem a devida fiscalização e proteção das fontes de água pode agravar a crise hídrica na região. O debate sobre o impacto social e ambiental da monocultura continua, evidenciando a necessidade de políticas de manejo que conciliem desenvolvimento econômico com sustentabilidade e preservação dos recursos hídricos.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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