EUA indicam demandas comerciais para abrir diálogo sobre tarifa do Brasil

Mesmo com negociações praticamente travadas com o governo Lula, a Casa Branca já indicou quais demandas comerciais poderiam pautar um eventual diálogo com o Brasil sobre o tarifaço imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros. As discussões ainda não avançaram, mas as autoridades americanas apontaram interesses específicos que, se atendidos, poderiam facilitar um entendimento bilateral.

Demandas comerciais dos EUA: etanol, cinema e mais

A lista de reclamações dos Estados Unidos é extensa, abrangendo setores que vão do etanol à distribuição de filmes. Segundo fontes próximas às negociações, a redução da tarifa de importação do etanol brasileiro, atualmente de 18%, é uma das principais reivindicações dos americanos. Além disso, há reclamações sobre a tributação de bebidas alcoólicas — como o imposto de 19,5% sobre uísque estrangeiro — e dificuldades burocráticas para a entrada de vinhos no mercado brasileiro.

Outras pautas em negociação

Os EUA também querem ampliar o acesso às compras governamentais brasileiras e ao mercado de usados, como pneus e equipamentos médicos. Produtores americanos de calçados e roupas criticam a falta de transparência nas regras brasileiras. No setor de telecomunicações, há queixas relacionadas aos requisitos da Anatel para a importação de produtos. Além disso, há interesse em questões relacionadas a satélites, proteção de dados, registro de patentes de medicamentos e minerais estratégicos, como lítio, cobre, nióbio, cobalto e terras-raras.

Relações diplomáticas e negociações futuras

O governo Lula já deixou claro que qualquer negociação não tratará do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado por Donald Trump como um dos motivos do aumento da tarifa do Brasil de 10% para 50%. Entretanto, importantes queixas dos americanos de interesse econômico podem ser negociadas, especialmente em setores como etanol, bebidas e cinema.

Na prática, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, reforçou a tentativa de diálogo ao apelar ao Congresso para aprovar rapidamente medidas de apoio às exportadoras brasileiras impactadas pelo tarifaço, incluindo uma medida provisória e um projeto de lei com orçamento de R$ 9,5 bilhões.

Posicionamento de líderes e estratégias

Durante visita a uma concessionária em Brasília, Alckmin afirmou que o Legislativo tem papel fundamental em responder às ações de Washington: “O Legislativo tem um papel importante a cumprir, que é dar resposta rápida.” Ele também criticou, de forma indireta, a atuação de Eduardo Bolsonaro junto à Casa Branca, e destacou que 74% dos produtos vendidos pelos EUA ao Brasil têm tarifa zero, com uma tarifa média de 2,7%, considerado como uma relação comercial favorável ao Brasil.

Enquanto o diálogo não se concretiza, o governo brasileiro trabalha para evitar novas punições através de relatórios e negociações. A expectativa é de que o Brasil apresente na próxima semana um relatório às autoridades americanas com o intuito de evitar novas medidas comerciais de retaliação, baseando-se na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA.

Implicações e estratégias americanas

Especialistas apontam que os EUA buscam ampliar sua influência por meio de concessões em setores estratégicos. De acordo com o professor Lucas Martins, da Temple University, a China conseguiu impor suas condições ao transformar seu domínio sobre minérios raros em uma força negociadora. Para ele, o Brasil também precisaria explorar seus ativos estratégicos, como minerais, para obter vantagens nas negociações bilaterais.

Por outro lado, o embaixador José Alfredo Graça Lima, vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), avalia que algumas demandas brasileiras fazem sentido do ponto de vista multilateral, mas outras são mais vagas e relacionadas ao fluxo do comércio. Segundo ele, o Brasil vai precisar fazer concessões para avançar nas negociações com os EUA, especialmente diante da resistência do governo Trump, que impõe tarifas elevadas e restrições comerciais.

Desafios e perspectivas

O cenário atual revela uma postura de postura mais dura por parte dos EUA, que mantêm tarifas altos para produtos importados do Brasil e de outros parceiros. Dados indicam que as tarifas elevam-se em setores como automóveis, autopeças, tecnologia, eletrônicos, químico e têxtil. Além disso, há questionamentos americanos sobre a demora brasileira em atender a requisitos de registros e proteção de dados.

Enquanto isso, a atenção também se volta para o impacto dessas medidas na economia global, especialmente na China, que já sofre com as tarifas de Trump e tenta compensar os efeitos com estratégias de diversificação de fornecedores e ativos estratégicos.

Segundo o diretor do Instituto Escolhas, Sergio Leitão, a questão do desmatamento também pode ser usada como justificativa legal para aplicar tarifas, mesmo com o desinteresse de Trump por causas ambientais — algo que pode ser contestado na Justiça americana e impactar as próximas negociações.

Com as possíveis concessões à vista, a relação entre Brasil e EUA permanece tensa, enquanto o governo brasileiro busca equilibrar interesses econômicos e diplomáticos na tentativa de minimizar os efeitos das tarifas de Trump sobre a economia nacional.

Fonte: O Globo

Tags: Economia, Relações exteriores, Tarifas, Comércio internacional

Com informações do Jornal Diário do Povo

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