Crise na soja: agricultores dos EUA enfrentam prejuízos por guerra comercial com China
Numa manhã ventosa de setembro, Josh e Jordan Gackle se reuniram para discutir a crise iminente que ameaça sua fazenda de soja na Dakota do Norte. A China, seu maior cliente, deixou de comprar o grão, marcando a primeira vez na história da operação de 76 anos que isso acontece. A fazenda de 930 hectares deve registrar uma perda de US$ 400 mil em 2025, com a soja acumulada em silos de aço aguardando o mercado se recuperar.
Impacto da guerra comercial na exportação de soja americana
Desde que o presidente Donald Trump impôs tarifas sobre produtos chineses em fevereiro, Pequim retaliou suspendendo todas as compras de soja dos EUA. Segundo a China, essa decisão teve efeitos devastadores para os agricultores da Dakota do Norte, que antes exportavam mais de 70% de sua soja para o país asiático.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, encarregado de negociar com a China, é também proprietário de milhares de acres de terras na Dakota do Norte, avaliadas em até US$ 25 milhões. Essa relação gera questionamentos sobre um possível conflito de interesses, uma vez que sua fortuna está ligada ao setor agrícola local.
Alterações no mercado e cenário futuro
Nos Estados Unidos, a alíquota de tarifas que a China cobra sobre a soja americana já chega a 34%, tornando o produto mais caro do que a soja brasileira. Como consequência, agricultores como Jordan Gackle alertam para uma crise semelhante à dos anos 1980, com altos custos, queda nos preços e risco de falências massivas.
“O nível de estresse agora é muito maior do que naquela época”, afirma Gackle. “Se continuar assim por muito tempo, veremos mais execuções hipotecárias nas fazendas.”
Consequências econômicas e busca por alternativas
Os agricultores estão estocando soja em armazéns improvisados e planejando acelerar exportações de milho para outros mercados. Kevin Karel, da Arthur Cos., já constrói silos temporários capazes de armazenar até 7 milhões de bushels de soja, para evitar perdas ainda maiores.
Apesar da situação difícil, Pequim não fechou totalmente as portas para as compras futuras. Recentemente, autoridades chinesas visitaram a região para discutir possíveis acordos de compra, demonstrando que a relação comercial ainda possui fio de esperança.
Interesses políticos e possíveis intervenções
Trump chegou a pedir publicamente que a China aumentasse suas compras de soja, com a expectativa de fortalecer a base eleitoral republicana no estado. Entretanto, sem avanços concretos nas negociações, o setor agrícola americano teme uma perda geracional, com consequências duradouras para a economia rural.
O governo dos EUA considera liberar ajuda federal, como ocorreu em 2019, para apoiar os agricultores afetados. Ainda assim, as tensões continuam, com negociações em andamento na Espanha e uma postura cautelosa por parte de Pequim.
Desafios na venda e armazenamento de terras agrícolas
O papel de Bessent, que precisa vender suas terras para evitar conflito de interesses, também revela a volatilidade do mercado. A recusa da China em comprar soja americana impacta diretamente o valor das terras na Dakota do Norte, que já apresenta sinais de queda, mesmo com valorização de mais de 10% ao ano na última década.
Corretores e especialistas afirmam que a venda rápida de terras pode depender de diversos fatores, incluindo condições contratuais e o interesse de agricultores locais, mas a crise atual dificulta esses processos.
Necessidade urgente de espaço de armazenamento
Para evitar prejuízos irreparáveis, os produtores correm para ampliar os espaços de armazenamento, usando sacos plásticos ou silos provisórios. Kevin Karel alerta que a China, o maior mercado, não possui substituto fácil para a soja americana.
Embora autoridades chinesas tenham visitado os EUA para discutir futuras compras, a relação permanece tensa. Especialistas como Bill Wilson, professor na Dakota do Norte, destacam a monumental ruptura na agricultura, com tempos turbulentos ainda por vir.
Fonte: O Globo
Com informações do Jornal Diário do Povo
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