Crise na Ambipar: conselho aprova contratos que agravaram dificuldades financeiras

Documentos obtidos pelo GLOBO demonstram que o Conselho de Administração da Ambipar aprovou contratos relacionados à estratégia financeira que resultou na solicitação de recuperação judicial pela empresa. A crise, que envolve uma dívida de R$ 10,5 bilhões, foi agravada por decisões tomadas pelo colegiado.

Contratos de derivativos e a origem da crise na Ambipar

Segundo os documentos, a Ambipar firmou contratos de derivativos e emissores de títulos que, após uma série de acusações, estão sendo considerados centrais para a crise financeira do grupo. Em fevereiro de 2024, a companhia realizou uma emissão de green bonds no exterior, via sua subsidiária Ambipar Lux, no valor de US$ 750 milhões, com vencimento em 2031.

Na mesma época, a empresa celebrou contratos de derivativos com o Bank of America, onde o ex-diretor financeiro João Arruda teria atuado, antes de transferir esse contrato para o Deutsche Bank em fevereiro de 2025. Essas operações, que visavam proteção cambial, tiveram impacto direto na liquidez e na estrutura de endividamento da companhia.

Governança questionada e denúncias do ex-diretor financeiro

Em carta de renúncia divulgada ontem, Arruda acusou a gestão de má-fé e afirmou que negociações importantes estavam sendo conduzidas sem seu conhecimento, o que teria contribuído para o rebaixamento da nota de crédito pela Fitch e Standard & Poor’s. Segundo ele, a falta de transparência e a governança fragilizada criaram um cenário de instabilidade financeira.

Arruda também revelou que, até julho deste ano, a Ambipar dizia contar com R$ 4,7 bilhões em caixa, embora esse valor fosse parcialmente proveniente de recebíveis vinculados a fundos. Além disso, a companhia iniciou uma investigação policial em São Paulo contra ele por acusação de falsidade ideológica e outros crimes.

Decisões do conselho e impacto na gestão

De acordo com a ata de reunião de 27 de outubro, o conselho autorizou a celebração de novos contratos de derivativos e delegou poderes à diretoria para assinar documentos relacionados às operações financeiras. Tércio Borlenghi Júnior, fundador e CEO, assinou o documento junto a Mauro Nakamura, ex-diretor jurídico. A decisão foi tomada sem a deliberação de toda a atuação, levantando suspeitas sobre o rigor do processo.

O documento indica ainda que Arruda, em sua saída, justificou sua decisão afirmando que negociações sem sua ciência contribuíram para a crise. Em resposta, a Ambipar afirmou que não se pronunciaria acerca das informações reveladas.

Repercussões e próximos passos

Desde o pedido de recuperação, a ação das ações da Ambipar caiu 97,1% no acumulado do ano, e na terça-feira (29), a empresa teve uma desvalorização de 12,5%, encerrando a R$ 0,35. A continuidade das investigações e a análise dos contratos assinados podem aprofundar o entendimento dos fatores que levaram à crise financeira do grupo.

Especialistas apontam que a recente revelação aumenta o grau de complexidade do caso, que envolve questões de governança corporativa e responsabilidades na gestão. O aval do conselho para contratos de derivativos teria sido determinante para o agravamento do quadro financeiro.

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Com informações do Jornal Diário do Povo

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