COP30 em Belém revela fragilidade da governança climática global

A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), realizada em Belém do Pará, simboliza um momento de crise na governança internacional. Com as maiores economias, Estados Unidos e China, ausentes com seus principais líderes, o encontro reflete a fragmentação do sistema global de cooperação climática.

Desafios e paradoxos do Fundo Florestas Tropicais para Sempre

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), com um aporte inicial de 5,5 bilhões de dólares. O objetivo é incentivar a preservação de florestas por meio de remuneração a países e comunidades, substituindo doações com condicionantes por um modelo de investimentos.

“O TFFF representa uma revolução pragmática”, afirmou o ministro Fernando Haddad. Marina Silva destacou que o fundo é um investimento, refletindo a lógica de mercado que domina o discurso climático hoje. No entanto, sua efetividade depende de uma equação delicada: gerar lucros suficientes para competir com o desmatamento, um paradoxo que simboliza o dilema do século XXI.

Impacto das ações locais e a crise social na Amazônia

Apesar dos avanços simbólicos, a realidade da região revela uma forte disparidade. Jovens indígenas da flotilha Yaku Mama, que cruzaram rios por 3.000 quilômetros, denunciam que menos de 1% do financiamento climático internacional chega às comunidades locais, responsáveis por preservar 80% da biodiversidade remanescente.

Também, a ausência de líderes como Donald Trump, que rejeita o consenso científico, e Xi Jinping, que envia representantes com metas mais ambiciosas, intensifica o vazio diplomático. A questão é: cada país age de acordo com seus interesses, dificultando um consenso global efetivo.

O papel do Brasil e a disputa pela liderança climática

O Brasil tenta se posicionar como mediador entre o Norte industrial e o Sul ecológico, buscando aproximação com a União Europeia e retomando o discurso de justiça ambiental. Em seu discurso, Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, ressaltou o impacto das mudanças climáticas em seu país, contrastando com o negacionismo de Washington.

A luta pelo multilateralismo em meio à fragmentação

Sendo palco de uma disputa de legitimações, Belém evidencia as divisões internas da União Europeia e a resistência de setores industriais à transição ecológica. Enquanto isso, os efeitos do aquecimento global se intensificam na Amazônia, com secas extremas, mortandade de peixes e escassez de água, ilustrando a urgência de ações concretas.

Especialistas alertam que partes da floresta se aproximam do ponto de não retorno, onde vastas áreas poderão se transformar em savanas degradadas. A crise também é humanitária, com milhares de crianças sem acesso a educação e alimentação devido à estiagem prolongada.

Perspectivas e desafios futuros da COP30

Enquanto o Brasil aposta em uma diplomacia de terceira via baseada na tecnologia e inclusão social, cresce a dúvida sobre se o fundo florestal de Belém será um novo contrato ecológico ou apenas uma sofisticação financeira de uma lógica extrativista. O verdadeiro teste será superar a tentação de lucrar com o desmatamento.

O encontro evidencia uma dicotomia: as promessas de cooperação contrastam com silêncios estratégicos, e o tempo político se alonga enquanto o clima se acelera. O desafio central é transformar compromissos em ações eficazes, unindo ciência, política e sociedade para evitar o colapso simbólico e ambiental.

Como afirmou Armando Garcia Júnior, professor de Direito Internacional, a COP30 simboliza esse momento decisivo, entre discursos vazios e a imprescindível sobrevivência do planeta. Belém, portanto, marca o limite entre esperança e desesperança na luta climática.

Leia mais em ESG Insights.

Com informações do Jornal Diário do Povo

Share this content:

Publicar comentário