Controle portuário pode frear excesso de plástico no Sul Global
Um estudo brasileiro evidencia que atuar sobre os portos, como pontos estratégicos de controle na cadeia internacional do plástico, pode ser uma saída viável para conter o excesso de resíduos no Sul Global. A pesquisa aponta que esses territórios restritos e monitorados são essenciais para implementar políticas públicas de gestão e redução desse material nocivo ao meio ambiente e à saúde pública.
Portos como pontos estratégicos na cadeia de plástico
Os portos funcionam como funis na cadeia de valor do plástico, concentrando fluxos internacionais que alimentam fábricas e mercados globais. Segundo os autores do estudo, ao monitorar e regular esses pontos, é possível reduzir a circulação de resíduos e materiais altamente poluentes, minimizando os impactos ambientais no continente africano, latino-americano e outras regiões do Sul Global.
“Pensar na redução da cadeia do plástico como política ambiental requer intervenção no midstream — a fase intermediária — onde decisões podem impactar significativamente toda a cadeia”, explica Caroline Malagutti, uma das autoras. Ela ressalta que esses portos têm potencial para atuar como centros de controle e fiscalização, contribuindo para a responsabilização das redes globais de comércio de plásticos.
Visões estratégicas e de justiça
Visão estratégica
A análise sugere que alguns portos influenciam economias inteiras e que a gestão responsável desses territórios pode influenciar toda a matriz de circulação do plástico. A implementação de políticas ambientais nesses pontos, aliados a dados de volumes e valores movimentados, permite ações direcionadas e mais efetivas para a redução de resíduos.
Visão de justiça
Para os autores, é fundamental que essas políticas considerem a justiça ambiental, priorizando populações vulneráveis e regiões mais expostas aos riscos do lixo plástico. “Tarifar ou restringir o plástico no Norte sem ações semelhantes no Sul apenas agravará desigualdades, prejudicando mais as comunidades de países em desenvolvimento”, alerta André Luiz Pardal.
Por isso, defendem que os investimentos em agências portuárias e centros de pesquisa sejam prioridade para fortalecer a participação do Sul na transição para cadeias de valor mais sustentáveis, evitando que as desigualdades aumentem na crise que envolve o excesso de plástico.
Iniciativas e possibilidades de ação
A pesquisa destaca que aprimorar a coleta e o monitoramento nos portos pode gerar indicadores importantes para orientar políticas de redução gradual dos plásticos, como tarifas sobre produtos descartáveis ou não recicláveis, além de taxas sobre aterros e incineração.
Segundo os autores, o uso de dados do comércio internacional — disponíveis na plataforma ‘World Integrated Trade Solution’ da ONU — permite identificar os principais fluxos de plástico e seus códigos de classificação, ajudando a visualizar e tomar medidas específicas na fase midstream.
Caminho para uma política coordenada
Embora o desafio seja enorme, o estudo aponta que a experimentação de tarifas e regulações nos portos do Sul, principalmente em regiões com capacidade de monitoramento informatizado, pode ser um passo inicial para uma transição que inclua inovação em materiais e sistemas de reuso. Assim, é possível cortar a dependência de cadeias de suprimento sustentadas pelo lobby do petróleo e por incentivos governamentais a favor do plástico.
“Começar pelos portos, como pontos territoriais controláveis, é estratégico e factível para avançar no controle do plástico”, reforça Nicole Russo, assistente de pesquisa na Austrália. Para ela, essa abordagem pode criar um precedente importante na governança global do plástico e na redução de resíduos nos países mais vulneráveis.
O estudo também enfatiza a importância de políticas internacionais fortes, que atuem no fim da cadeia de produção, e de que o controle nos portos seja aliado a ações de inovação e transferência de tecnologias mais circulares, com menor impacto ambiental.
Essa estratégia requer uma construção colaborativa e coordenada entre países do Norte e do Sul, promovendo justiça social e ambiental enquanto combate a crise global do plástico, que ainda pode ser mitigada por uma política de controle inteligente e planejada.
— Este texto foi elaborado com base em pesquisa divulgada na The Conversation e reflete uma estratégia emergente de enfrentamento ao excesso de plástico no contexto internacional. Para mais detalhes, leia o artigo completo no site original.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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