Comunidades enfrentam as maiores consequências das mudanças climáticas
As comunidades mais pobres e periféricas do Brasil são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, enfrentando temperaturas recordes e impactos diretos na saúde e na qualidade de vida. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em 2024, o Brasil atingiu as temperaturas mais altas dos últimos 63 anos, evidenciando o agravamento das alterações climáticas no país.
Impactos das mudanças climáticas nas comunidades urbanas brasileiras
Estudos mostram que fatores socioeconômicos e raciais ampliam a vulnerabilidade de populações periféricas às ondas de calor e eventos climáticos extremos. Dados do Censo 2022 do IBGE revelam que sete em cada dez brasileiros em moradias precárias são pretos, pardos ou indígenas, com maior incidência na Região Norte, onde o acesso a serviços essenciais é mais deficiente.
O efeito do clima nas zonas mais marginalizadas
Em bairros como Paraisópolis, em São Paulo, e no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, as temperaturas sobram os 50°C, enquanto as condições de moradia, muitas vezes precárias, potencializam esses impactos. “Muitos lares da periferia não possuem ventilação adequada, o que intensifica o calor, e estão sujeitos a problemas de saúde como mofo, doenças respiratórias e insalubridade”, explica Ester Carro, arquiteta e ativista.
Dados de ONG como a Teto Brasil indicam que 69% das moradias em favelas sofrem com excesso de calor ou frio, além de entrada de insetos, roedores e umidade, agravando as condições de saúde e bem-estar dos moradores.
Sintomas de um racismo ambiental e desigualdade territorial
O racismo ambiental, termo cunhado na década de 1980 nos Estados Unidos, define a prática de concentração de depósitos de resíduos tóxicos e atividades poluentes em bairros predominantemente negros e pobres. No Brasil, essa lógica ainda se reflete na forma como as cidades distribuem recursos e direitos, concentrando oportunidades nas regiões centrais e marginalizando as periferias.
Segundo Céline Veríssimo, arquiteta e pesquisadora, “a minoria da população mundial que detém poder explora a natureza e subjuga a maior parte da população, perpetuando o racismo social e ambiental”.
Desafios na urbanização social e na construção de moradias dignas
Cerca de 45 milhões de brasileiros vivem em habitações precárias, muitas construídas sem assistência técnica adequada, o que dificulta melhorias estruturais e aumenta os riscos à saúde. A arquiteta Ester Carro destaca que o urbanismo social busca transformar essas áreas por meio de projetos participativos e sustentáveis, promovendo protagonismo comunitário e respeito às identidades locais.
“A participação da comunidade é essencial para garantir a continuidade e a eficácia das intervenções, além de fortalecer o sentimento de pertencimento e autoestima”, explica. Essas ações também colaboram para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, com estratégias de reaproveitamento de materiais e criação de espaços verdes.
Resistência e estratégias de sobrevivência diante do cenário climático
Moradores, mesmo diante das dificuldades, criam soluções improvisadas para enfrentar o calor extremo, como hortas urbanas, pintura de casas de branco ou instalação de telhados verdes. Essas ações refletem a luta diária por sobrevivência e por melhores condições de vida em contextos de desigualdade social.
“A arquitetura social promove a melhora na estrutura das moradias e reforça o vínculo das comunidades com seus espaços, contribuindo para a resistência às mudanças climáticas e a melhora na saúde mental”, afirma Ester Carro. Ações colaborativas e sustentáveis são essenciais para garantir um futuro mais justo e resiliente para as populações vulneráveis.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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