China propõe sistema financeiro global multidivisas para desafiar o dólar
O presidente do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, anunciou nesta quarta-feira um plano para estabelecer um sistema financeiro global que depende de diversas moedas principais, e não apenas do dólar. A iniciativa faz parte da estratégia de Pequim de enfraquecer a primazia da moeda norte-americana no comércio internacional, enquanto o país busca ampliar seu papel econômico global.
Por que a China promove uma economia multidivisas?
Pan Gongsheng criticou a dependência excessiva do economia mundial do dólar, destacando os riscos associados a problemas fiscais e regulatórios nos Estados Unidos. Segundo ele, esses fatores podem culminar em riscos financeiros globais e até desencadear uma crise financeira internacional, caso a moeda americana enfrente instabilidades.
“A dependência de uma única moeda traz vulnerabilidades e aumenta o risco de desestabilização,” alertou o presidente do banco central chinês, em discurso na abertura do Fórum Lujiazui, em Xangai. A proposta de diversificação visa promover um sistema mais estável e resistente às crises.
Contexto internacional e a posição da China
A iniciativa ocorre em um momento de desvalorização do dólar, com o governo dos Estados Unidos adotando políticas de enfraquecimento da moeda, como a desvalorização competitiva. O dólar, atualmente, domina cerca de 80% do comércio global, seguido pelo euro. A China, que mantém o yuan fortemente atrelado ao dólar, tem dado passos para regionalizar o uso de sua moeda, promovendo sua utilização em acordos comerciais regionais e em transações bilaterais.
Segundo analistas, a estratégia chinesa de “regionalização do yuan” busca inserir sua moeda na economia de países em desenvolvimento, especialmente na Ásia, África e América Latina, como alternativa ao dólar. “A China está consolidando o yuan como moeda de uso regional, especialmente no comércio com países do Sul Global,” explica Dan Wang, economista do Eurasia Group em Cingapura.
Impactos potenciais e desafios da proposta
Uma moeda global multivaluta pode reduzir o risco de dependência de um único emissor e ampliar a autonomia financeira de diversos países. No entanto, a transição apresenta obstáculos significativos. A China mantém grandes restrições à circulação do yuan fora do país, visando evitar a saída de capitais e a desvalorização descontrolada da moeda.
Além disso, o uso predominante do dólar na economia mundial está atrelado a procedimentos consolidados e ao amplo sistema de transações internacionais, ainda fortemente dependente de métodos tradicionais, como pagamento via remessas bancárias que utilizam o dólar como padrão.
Ao promover o uso de tecnologias emergentes, como o yuan digital, Pequim deseja facilitar pagamentos transfronteiriços em moedas diversas, potencializando a mobilidade do yuan como moeda de reserva mundial.
Relações geopolíticas e o papel de China e aliados
Pan Gongsheng também destacou que países com moedas dominantes tendem a usá-las de forma estratégica em conflitos geopolíticos, armando-as de modo a favorecer seus interesses. A China, alinhada com a Rússia, Irã e Coreia do Norte, tem se manifestado contra sanções americanas que visam sufocar o comércio com esses países e promover a circulação de suas moedas em operações bilaterais.
Por exemplo, a China realiza a maior parte de suas transações de petróleo com o Irã e a Rússia por meio de bancos que dependem pouco do dólar, favorecendo o uso de suas moedas locais ou de yuans em negociações internacionais.
Perspectivas e limitações
Apesar do esforço chinês, o yuan ainda representa uma fração do comércio global, e os obstáculos internos, como o enorme superávit comercial e restrições cambiais, dificultam sua internacionalização plena. “China não está globalizando o yuan ao estilo ocidental, mas regionalizando-o, inserindo-o na economia de países em desenvolvimento e em suas relações comerciais,” avalia Dan Wang.
Pequim busca também estimular a adoção de pagamentos em moedas digitais, o que poderia facilitar a realização de transações internacionais em moedas que não o dólar, conferindo maior autonomia às moedas regionais.
Enquanto a proposta de diversificação cambial é vista com ceticismo por alguns analistas, ela sinaliza uma mudança na forma como o sistema financeiro global pode evoluir nas próximas décadas, diante do crescimento de alternativas ao dólar e do fortalecimento do yuan.
Para mais detalhes, acesse a fonte oficial.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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