Banco Central mantém Selic em 15% e sinaliza estabilidade prolongada
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, pelo terceiro mês consecutivo. A decisão era amplamente esperada pelo mercado financeiro e representa o maior patamar desde julho de 2006, mesmo com solicitações do governo por uma redução.
Decisão do BC reforça manutenção da Selic em 15%
No comunicado divulgado após a reunião, o BC confirmou que os juros devem permanecer neste nível por um “período bastante prolongado” para cumprir a meta de inflação de 3%. Pela primeira vez, o órgão afirmou categoricamente que o nível atual dos juros é suficiente para atingir esse objetivo, reforçando a postura de cautela.
Implicações da permanência da taxa
Analistas avaliam que a sinalização fortalece a expectativa de que a Selic só será reduzida em meses subsequentes, possivelmente entre janeiro e março de 2026. Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, a previsão é de que os cortes só comecem em março do próximo ano, chegando a 12% até o final de 2026. “A decisão do Copom ficou alinhada ao cenário-base de nossa equipe, que prevê corte só a partir de março”, afirmou.
Além disso, o analista destacou que a política fiscal expansionista e a incerteza global podem exercer pressão sobre a demanda interna, o déficit em conta corrente e a inflação ao longo de 2026, o que deve limitar o espaço para o ciclo de cortes no próximo período. Rafael Vargas, estrategista do Wells Fargo, reforçou que o comunicado do BC demonstra cautela extrema, mantendo a postura de combate à inflação mesmo com sinais de melhoria moderada.
Cenário de queda mais distante
Antes da decisão, o Ibovespa renovou suas máximas, atingindo 153.294 pontos, enquanto o dólar recuou 0,7%, para R$ 5,36. Contudo, o mercado já trabalhava com a hipótese de que a redução da Selic só começaria em 2026, com analistas como Caio Megale prevendo que os cortes só ocorrerão a partir de março. O euro e o dólar observam uma postura de maior cautela do BC, alinhada a uma conjuntura de riscos externos e domésticos.
O mercado de trabalho brasileiro, por sua vez, permanece dinâmico, o que contribui para a persistência na política de juros elevados. Segundo Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs, o BC ainda não está disposto a afrouxar a política monetária diante de riscos que incluem a inflação resistente e a expansão fiscal.
Dúvidas sobre impacto da isenção de IR em 2026
Um ponto que permanece em discussão é o efeito da recente aprovação de uma isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que entra em vigor em 2026. Denis Ferrari, gestor da Kinea Investimentos, questiona se o BC já considerou esse impacto em suas projeções de inflação. “A confirmação virá na ata da próxima reunião”, afirmou.
Apesar de a decisão de ontem indicar que o BC não pensa em corte imediato, especialistas como Arnaldo Lima, da Polo Capital, avaliam que a maior confiança na estratégia de juros pode encurtar o tempo até início de cortes, possivelmente já em janeiro de 2026.
Perspectivas futuras e desafios
Com a inflação em trajetória de desaceleração, o BC reforça que o cenário externo permanece incerto, especialmente devido à política econômica nos Estados Unidos, reforçando a necessidade de cautela na condução da política monetária. A projeção de inflação para o final de 2026 foi revisada de 4,8% para 4,6%, ainda acima do teto da meta — 4,5%.
O comunicado também destacou que, apesar de sinais de arrefecimento na inflação, os riscos fiscais e o crescimento econômico resiliente continuam a exercer pressão sobre os resultados da política econômica. Como disse Rafael Vitória, economista-chefe do Banco Inter, o cenário atual requer atenção às contas públicas e aos efeitos de novas despesas públicas, sobretudo em ano eleitoral.
O próximo encontro do Copom, previsto para março de 2026, deverá definir os rumos finais para a política de juros, que permanece sob forte vigilância de investidores e do governo.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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