Bancada ruralista pede anulação de questões do Enem

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se manifestou, nesta segunda-feira (6), pedindo anulação de duas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que tratam de desmatamento e agronegócio por supostamente terem “cunho ideológico” e falta de “critério científico ou acadêmico”. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é responsável pela elaboração da prova, afirma que as questões “passaram pelo fluxo estabelecido nas normativas do Banco Nacional de Itens”.

Além da anulação, a FPA requer que o ministro da Educação, Camilo Santana, seja convocado para audiências na Câmara e no Senado e que o MEC apresente informações sobre a banca organizadora da prova e as referências bibliográficas utilizadas.

A Frente afirma se tratar de “negacionismo científico” contra um setor que traz “segurança alimentar ao Brasil e ao mundo”. “O setor agropecuário representa toda a diversidade da agriculta: pequenos, médios e grandes. Somos um só e não aceitaremos a divisão para estimular conflitos agrários”, diz o grupo.

Por meio de nota, o Inep diz que as questões da prova são feitas por professores selecionados por edital do Banco Nacional de Itens (BNI). Informa também que os instituto “não interfere nas ações dos colaboradores selecionados para compor o Banco”. Leia a íntegra abaixo:

“As questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são elaboradas por professores independentes, selecionados por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI). O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não interfere nas ações dos colaboradores selecionados para compor o Banco. O processo envolve as etapas de elaboração e revisão pedagógica dos itens, além de validação pelo trabalho de uma comissão assessora. Os itens selecionados para a edição de 2023 passaram pelo fluxo estabelecido nas normativas do BNI”.

As questões
A FPA pediu a anulação das questões 70 e 89 (caderno branco), que tratam de desmatamento e o agronegócio.

A questão 70 apresenta um texto de referência do artigo “A Amazônia e a nova geografia da produção da soja”, escrita por A. U. Oliveira. O texto diz: “Alternativas logísticas estão servindo de instrumentos que ativam os mercados especuladores de terras nas diferentes regiões da Amazônia e constituem em indicadores utilizados por diferentes atores para defender ou denunciar o avanço da cultura da soja na região e, com ela, a retomada do desmatamento. É evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver também com a expansão da soja, porém atribuir a ela o fator principal parece não totalmente correto. Parto da compreensão central de que a lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas”.

A questão pede ao estudante que identifique qual problema central é desencadeado na situação descrita, na visão do autor, por uma das seguintes opções:

  • apropriação de áreas devolutas;
  • sonegração de impostos federais;
  • incorporação de exportação ilegal;
  • desoneração de setores produtivos;
  • flexibilização de legislação ambiental.

A questão 89 apresenta um texto de apoio do artigo “Territorialização do agronegócio e subordinação do campesinato no Cerrado”. “No Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio. De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como mecanismos de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado. Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada. Além do mais, há outros fatores negativos, como mecanização pesada, a “pragatização” dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”, afirma o texto.

Nessa questão, o estudante deve identificar o que demonstram os elementos descritos no texto a respeito da territorialização da produção entre as seguintes opções:

  • cerco aos camponeses, inviabilização da manutenção das condições para a vida;
  • descaso aos latifundiários, impactando a plantação de alimentos para a exportação;
  • desprezo ao assalariado, afetando o engajamento dos sindicatos para o trabalhador;
  • desrespeito aos governantes, comprometendo a criação de empregos para o lavrador;
  • assédio ao empresariado, dificultando o investimento em maquinários para a produção.
  • Da Redação

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