Inflação de alimentos desacelera, mas cenário externo traz incertezas para 2026
A inflação de alimentos atingiu a segunda menor alta desde 2018, chegando a 1,94% no IPCA-15, previsão que deve aliviar a pressão sobre o custo de vida em 2026, embora o cenário externo e político ainda tragam riscos. Segundo especialistas, a combinação de safra recorde, clima favorável e câmbio em baixa contribuiu para esse alívio momentâneo na ponta do consumo doméstico.
O impacto da safra e do câmbio na inflação de alimentos
O bom desempenho agrícola neste ano, aliado ao regime de chuvas mais próximo à média histórica, foi fundamental para manter os preços comportados, explica André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). “Alimentação é câmbio na veia. Um volume de chuva adequado e safras boas explicam o alívio”, afirma o especialista.
Além disso, a forte baixa do dólar colaborou para reduzir custos de matérias-primas como soja e milho, que são cotadas na moeda americana, favorecendo a estabilidade dos preços de alimentos básicos.
Expectativas para 2026: o que deve subir?
Segundo o economista Alexandre Maluf, da XP Investimentos, alguns produtos tendem a apresentar alta no próximo ano devido a fatores climáticos e de safra. O arroz, que caiu cerca de 27% em 2025, deve subir devido à redução da safra, com previsão de queda de 12% na produção, conforme estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Outros itens que correm maior risco de alta incluem tubérculos, raízes e legumes, como batata, tomate, cenoura e cebola, que operaram com preços baixos após anos de deflação e podem passar por reversão devido a condições climáticas adversas.
As carnes podem registrar aumento de até 8%, refletem ciclo pecuário negativo, oferta restrita globalmente e demanda aquecida, especialmente por países asiáticos. Óleos, gorduras e o café também devem subir, na ordem de 5%, embora expectativas indiquem que o preço do café possa cair até 20% com a melhora da safra internacional, o que não compensará as altas recentes.
Desafios e fatores de risco para o próximo ano
Maluf alerta para o risco cambial, que pode oscilar por conta das eleições e de fatores internacionais, além de possíveis eventos climáticos como o fortalecimento da La Niña, que pode impactar a produção agrícola. O cenário externo, com uma eventual alta do dólar, pode pressionar os preços para cima.
O avanço dos gastos públicos e a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, prevista para janeiro, podem ampliar a demanda e pressionar a inflação. Soma-se a incerteza geopolítica, que também influencia a estabilidade de preços internacionais.
O impacto das variações na inflação de alimentos nas eleições de 2026
O comportamento dos preços de alimentos é decisivo na avaliação popular sobre o governo, especialmente em anos eleitorais. Uma inflação mais controlada, como a esperada em 2026, tende a evitar o desgaste político, embora fatores externos e o risco cambial possam dificultar essa estabilidade.
De acordo com levantamento do instituto AtlasIntel, em parceria com a Bloomberg, a inflação voltou a influenciar negativamente a avaliação do governo, após altos cycles registrados em 2021 e 2022, quando a inflação de alimentos elevou-se para 8,24% e 13,23%, respectivamente. Especialistas avaliam que o próximo ano poderá repetir um cenário parecido com o de 2018, com inflação de alimentos próxima de 4,4% e o IPCA ao redor de 4,5%, limite superior da meta oficial.
O presidente Lula, em evento no Palácio do Planalto, comentou que a inflação de alimentos tem apresentado sinais de desaceleração, destacando que o cenário econômico tem se mostrado mais favorável, apesar das incertezas internacionais. “O ano termina bem. O preço do alimento está caindo, e as dificuldades que alguns países enfrentam não tiveram impacto relevante aqui”, afirmou.
Apesar das boas perspectivas, analistas alertam para o risco de que a elevada demanda derivada de gastos públicos e isenções fiscais possa elevar a pressão inflacionária, além das incertezas no cenário externo devido à política internacional e às condições climáticas em países produtores.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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