Acordo UE-Mercosul: desafios para o setor agrícola brasileiro

Após décadas de negociações, o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul avança para uma semana decisiva. Nesta terça-feira (16), o Parlamento europeu deve avaliar as medidas de proteção ao setor agrícola local, que podem impactar as exportações brasileiras.

Salvaguardas agrícolas: o que estão em jogo na UE

As chamadas salvaguardas representam uma proposta da União Europeia para proteger seus produtores de possíveis prejuízos decorrentes do aumento das importações de alimentos do Mercosul. Caso aprovadas, essas proteções podem suspender o acordo temporariamente, caso setores específicos sofram danos.

A aprovação dessas medidas preocupa o setor agro brasileiro, que vê no acordo uma oportunidade de ampliar suas exportações, sobretudo para a UE, que já é o segundo maior destino de alimentos brasileiros. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, “não adianta a gente procurar o acordo perfeito; temos que implementar gradualmente e ir aperfeiçoando”.

Papel decisivo da Itália e das tensões na Europa

Desde 2019, diversos países europeus, como França, Itália, Polônia e Hungria, manifestam resistência ao tratado, cobrando maiores garantias ambientais e comerciais. A Itália, por exemplo, sinalizou a possibilidade de adiar a votação, deixando em aberto sua posição final.

Segundo informações da agência Reuters, Macron, presidente da França, e Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, concordaram em postergar a decisão. A Alemanha e a Espanha apoiam o acordo, enquanto países como Áustria, Irlanda, Polônia, Hungria e Bélgica ainda analisam suas posições, podendo votar contra ou abster-se.

Perspectivas e desafios para a assinatura do acordo

Mesmo com avanços, a assinatura do tratado depende do aval final do Parlamento europeu, que pode ocorrer somente em 2026, considerando a necessidade de ratificação por pelo menos 35% da população da UE. A expectativa é que o acordo seja assinado na Cúpula do Mercosul, neste sábado (20), em Foz do Iguaçu.

Oposição e argumentos contrários no debate europeu

Críticos na Europa, principalmente agricultores e pecuaristas, temem perder competitividade com a entrada de produtos do Brasil, que podem chegar com preços mais baixos devido à produtividade e custos menores. Além disso, há preocupação com o impacto ambiental, alegando-se que a produção no Mercosul não segue os mesmos padrões europeus.

Por outro lado, países como Alemanha e Espanha defendem o acordo, destacando que ele pode contribuir para diversificar alianças comerciais e reduzir a dependência da Europa na China, além de abrir mercados para produtos como queijos, vinhos e carnes.

Mudanças e dificuldades na negociação

Desde 2019, o texto do acordo sofreu ajustes, incluindo novas exigências ambientais por parte da UE e regras de antidesmatamento, que ainda enfrentam dificuldades de implementação. Segundo a diretora de relações internacionais da CNA, Sueme Mori, o quadro atual favorece mais a Europa, criando um desequilíbrio nas negociações.

Desafios ambientais e a questão das leis brasileiras

Embora a UE critique o desmatamento, o Brasil possui leis ambientais rígidas, como o Código Florestal, que exige reservas legais nas propriedades rurais. Especialistas alertam que as regras europeias, em fase de flexibilização, podem exigir padrões ainda mais rigorosos, dificultando o comércio bilateral.

Impactos econômicos e comerciais

Produtos brasileiros têm vantagem competitiva na Europa por causa da produtividade, custos menores e escala. Contudo, as salvaguardas propostas podem limitar aumentos de exportação, configurando mecanismos de reação rápida que exigiriam maior cautela do setor.

O debate sobre o acordo reflete um momento tenso, em que interesses econômicos, ambientais e políticos se cruzam, podendo determinar o futuro das relações comerciais entre a União Europeia e o Mercosul.

Com informações do Jornal Diário do Povo

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