Dados do IBGE revelam disparidade salarial e hierarquia racial no Brasil

Os dados do Censo 2022 Trabalho e Rendimento, divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE, evidenciam profundas desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro. Os grupos de cor ou raça amarela e branca continuam a receber os maiores rendimentos em todos os níveis de escolaridade, com destaque para o nível superior completo, onde amarelos ganhavam R$ 8.411, brancos R$ 6.547, enquanto negros recebiam, respectivamente, R$ 4.559 (pardos) e R$ 4.175 (pretos). A discrepância salarial entre brancos e negros chega a 57% na média.

Racismo estrutural e desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho brasileiro

Para Luana Ozemela, líder de Sustentabilidade do iFood e conselheira do Global Future Councils 2025 do Fórum Econômico Mundial, esses números confirmam que o racismo continua sendo um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento econômico do país. A desigualdade salarial entre pessoas brancas e negras não é apenas um problema social; é um gargalo de produtividade, inovação e competitividade, afirma.

Profissões e hierarquias ocupacionais segundo a cor

De acordo com levantamento do Globo, com base no Censo 2022, os brancos continuam a ocupar carreiras com maior escolaridade e mais valorizadas, enquanto os negros estão concentrados em profissões mais precarizadas. Entre as categorias profissionais com maior participação de negros estão:

  • Trabalhadores elementares de caça, pesca e aquicultura (82,9%)
  • Condutores de veículos e máquinas de tração animal (77,5%)
  • Pescadores (76,6%)
  • Trabalhadores elementares de minas e pedreiras (74,9%)
  • Coletores de lixo e material reciclável (74,5%)

Já as profissões com menor representatividade negra incluem médicos especialistas (18,8%), profissionais de medicina alternativa (18,9%), médicos gerais, físicos, arquitetos, economistas e dentistas, cuja participação não ultrapassa 22%.

A advogada Ana Bavon, especialista em governança social, destaca que essa divisão revela a manutenção de uma hierarquia racial no mercado brasileiro. Ela não é acidental, mas resultado de uma engenharia institucional que associa a branquitude à credibilidade e a negritude à execução incidente.

Impacto da estrutura na mobilidade social e nas organizações

Para Bavon, o problema não reside nas escolhas individuais, mas na estrutura que as condiciona. Ela aponta que as empresas delegam às pessoas negras tarefas de suporte, enquanto as posições de decisão continuam a ser ocupadas por brancos, sustentando uma lógica de desigualdade que limita a mobilidade social. Mesmo com ensino superior, a cor ainda funciona como um diploma paralelo, afetando o valor de mercado e perpetuando o racismo como mecanismo organizacional de poder.

Desafios e caminhos para a equidade

Luana Ozemela reforça que, diante desse cenário, o passo fundamental é adotar políticas de equidade fundamentadas em evidências e metas claras. Essas ações devem focar em três pilares: acesso, permanência e progressão de pessoas negras em todos os níveis de decisão. É necessário revisar critérios de recrutamento, alinhar incentivos de liderança à diversidade e redirecionar investimentos para negócios liderados por negros, que enfrentam maiores obstáculos para obter financiamento.

Perspectivas de transformação no mercado de trabalho brasileiro

Segundo especialistas, a implementação de políticas consistentes pode contribuir para reduzir as disparidades e promover uma sociedade mais justa e produtiva. A mudança estrutural, aponta Ozemela, exige ação coordenada entre setor público e privado para promover a inclusão efetiva de negros em posições estratégicas e de maior valor social.

Mais detalhes sobre o levantamento do IBGE podem ser conferidos no artigo do Globo.

Com informações do Jornal Diário do Povo

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