Argentina utiliza mecanismos criativos para segurar o dólar diante da queda das reservas

A crise nos mercados financeiros argentinos preocupa o governo do presidente Javier Milei às vésperas das eleições parlamentares de 26 de outubro, enquanto o país tenta conter a forte desvalorização do peso. As reservas cambiais estão em níveis críticos, levando o Banco Central a recorrer a estratégias alternativas para estabilizar a moeda.

Operações de emergência para segurar o dólar

De acordo com estimativas de operadores, o Tesouro argentino vendeu pelo menos US$ 1,5 bilhão nas últimas seis sessões para manter a taxa de câmbio abaixo do limite da banda cambial, atualmente de 1.430 pesos por dólar. Os dados do Banco Central indicam que, em 2 de outubro, havia US$ 1,7 bilhão em depósitos em dólar, sugerindo que as reservas do país estão agora abaixo de US$ 750 milhões.

O Banco Central só pode intervir no mercado à vista de câmbio quando o peso ultrapassa os limites estabelecidos pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nos últimos dias, a instituição tem adotado métodos alternativos para tentar segurar as cotações do dólar, além de venda direta de reservas.

Mercado de derivativos e apostas de desvalorização

Em setembro, a autoridade monetária aumentou sua posição vendida em contratos futuros de dólar para cerca de US$ 8 bilhões — valor próximo ao limite de US$ 9 bilhões estabelecido pela bolsa local A3. Essas apostas indicam que a expectativa de desvalorização do peso para o próximo ano é de aproximadamente 60%, bem acima da projeção oficial de uma depreciação inferior a 30% em 12 meses, demonstrando a perda de confiança na moeda e no governo de Milei.

Segundo Juan Carlos Barboza, economista-chefe do Mariva Bank, “isso mostra um profundo medo de deixar a moeda flutuar. O que estamos vendo, na prática, é um regime de câmbio semifixo, e o Tesouro está perdendo reservas das quais precisa urgentemente nesse processo”.

Ferramentas alternativas e estratégias de contenção

O Banco Central vem adotando diferentes estratégias para conter a fuga de dólar, como operações no mercado secundário usando a bolsa de valores local BYMA. Desde 19 de setembro, os volumes negociados aumentaram, mesmo que a liquidez continue limitada, com posições em aberto de US$ 141 milhões na última terça-feira.

Além disso, o governo passou a atuar no mercado bilateral dentro da própria bolsa, com compras e vendas de títulos públicos, incluindo uma troca recente de US$ 4 bilhões de dívida por títulos vinculados ao dólar e pesos, na tentativa de reforçar as reservas. Segundo fontes próximas, o banco central também opera com menos de US$ 10 milhões no mercado de títulos bilaterais na bolsa A3.

Desafios das reservas e apoio internacional

O nível atual das reservas cambiais indica que o governo provavelmente precisará de novas injeções de recursos de credores multilaterais e do apoio do Tesouro dos Estados Unidos para honrar os pagamentos de dívida que vencem em janeiro. Juan Manuel Truffa, economista, afirma que, apesar das promessas de Milei de obter ajuda dos EUA, as expectativas de mercado continuam deteriorando-se.

“Apesar dos anúncios de Milei sobre uma assistência iminente dos EUA e da confirmação de uma visita à Casa Branca em 14 de outubro, as expectativas do mercado continuam a se deteriorar”, afirmou Truffa em relatório recente.

Impactos e condições futuras

O governo também recorre a medidas regulatórias, como incentivos fiscais temporários para promover a venda de dólares por parte de detentores, além de reduzir tributos sobre exportações agrícolas, como forma de aumentar a oferta de moeda estrangeira e valorizar brevemente o peso. No entanto, essas ações não garantem estabilidade duradoura enquanto as reservas seguem em níveis críticos.

Especialistas criticam a abordagem atual, questionando se a taxa de câmbio vigente é adequada para que a Argentina possa avançar em seu crescimento econômico. Joaquín Bagues, diretor da Grit Capital Group, destaca que o mercado está questionando a sustentabilidade do modelo cambial adotado pelo governo.

Para mais detalhes, veja o artigo completo no Fonte.

Com informações do Jornal Diário do Povo

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