Trump tenta manipular fatos para sustentar sua narrativa

O presidente Donald Trump demonstrou mais uma vez seu esforço de refutar informações contrárias às suas opiniões, desde sua própria equipe até dados oficiais dos Estados Unidos. Na última semana, ele demitiu com irritação uma funcionária do Departamento do Trabalho responsável por certificar as estatísticas de emprego, alegando que os números eram “falsos” apenas por serem desfavoráveis ao seu governo.

Manipulação de dados e ataques à ciência federal

Segundo relatos, Trump afirmou que as estatísticas de emprego fornecidas pela funcionária, Erika McEntarfer, eram “manipuladas”, mesmo sem apresentar provas concretas e justificando sua opinião como base. A decisão ocorreu após o relatório de julho indicar que a criação de empregos havia sido somente metade do crescimento registrado no mesmo período do ano passado.

Essa ação faz parte de uma postura crescente do atual mandato, que tem se caracterizado por um esforço sistemático para controlar a narrativa oficial. Dados de entidades independentes revelam uma série de “ataques à ciência federal”: até agora, 402 casos documentados por organismos como a União de Cientistas Preocupados. Essa organização denunciou uma escalada na tentativa de interferência e repressão à autonomia de agências de estatísticas e pesquisa.

Reação da comunidade científica e política

Especialistas e ex-funcionários criticam duramente a decisão de Trump. Gretchen T. Goldman, presidente da entidade e ex-assessora científica do governo Biden, afirmou que a demissão de uma autoridade de estatísticas envia uma mensagem clara: “aguarda-se que os funcionários comprometam a integridade científica para agradar ao presidente”.

William W. Beach, ex-chefe de estatísticas do próprio Trump, também criticou a demissão, considerando a decisão “totalmente infundada” e um precedente perigoso para a transparência. Ambos destacam que uma gestão independente e neutra é fundamental para uma democracia aperfeiçoada.

Consequências de uma infraestrutura epistêmica fragilizada

Ao ampliar sua política de desinformação, Trump reforça um cenário de desconfiança na própria base de dados oficiais, essenciais para a formulação de políticas públicas e análise de riscos. Como explicou Michael Patrick Lynch, professor na Universidade de Connecticut, “uma democracia não pode existir de forma realista sem uma infraestrutura epistêmica confiável”.

Durante seu mandato, o ex-presidente já mostrou disposição em alterar ou contestar fatos incontestáveis, como o tamanho de sua multidão na posse ou previsões meteorológicas. Agora, sua estratégia visa editar ou eliminar dados que possam comprometer sua narrativa, colocando em risco a credibilidade de instituições públicas.

O contexto internacional e o histórico autoritário

Histórico de líderes autoritários mostra que o controle das informações é uma tática comum para consolidar poder. Desde os soviéticos até líderes turcos, muitos já usaram falsificações ou manipulações de dados econômicos para legitimar suas ações. A postura de Trump não foge a esse padrão, com um agravante: o desdém pelo processo de checagem independente.

Para especialistas, esse ambiente de desconfiança e censura pode ter repercussões profundas na democracia americana. Como destacou a ex-deputada Barbara Comstock, “estamos em um mundo pós-factual”, onde líderes tentam silenciar qualquer fonte de informação que contrarie sua versão, lembrando o poder que Bacon já alertava séculos atrás: “conhecimento é poder”.

Reação internacional e próximas ações

Nos Estados Unidos, o governo anunciou que nomeará um “substituto excepcional” para liderar o Departamento de Estatísticas do Trabalho, após a demissão de McEntarfer, prometendo uma gestão mais rigorosa na divulgação de dados econômicos. Essa medida busca restaurar a confiança, mas preocupa pela tendência de minar a independentismo institucional.

A disputa pelo controle da informação indica uma fase delicada na política americana, com riscos de ampliar a desconfiança na legitimidade dos dados oficiais e prejudicar a transparência democrática. Especialistas alertam que o fortalecimento de uma infraestrutura de dados confiável é imprescindível para a saúde das instituições e da própria democracia.

Para saber mais, acesse análise completa sobre a tentativa de Trump de controlar os dados econômicos.

Com informações do Jornal Diário do Povo

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