Desindustrialização é risco na produção de veículos com kits importados, alerta Anfavea
A produção de veículos no Brasil por meio dos sistemas SKD (semi-desmontados) e CKD (quase desmontados) tem sido alvo de críticas pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet. Segundo ele, essa prática contribui para a desindustrialização do país ao perpetuar uma cadeia tecnológica de baixa sofisticação e gerar menos empregos.
Impacto da produção por sistemas SKD e CKD na indústria automotiva
Durante apresentação dos resultados do setor no primeiro semestre, Calvet afirmou que a utilização de kits importados impede a reindustrialização e afeta a geração de empregos. Ele destacou que, para cada emprego na indústria automotiva, há uma indução de outros dez postos de trabalho indiretos ao produzir no Brasil de forma completa. Em contrapartida, a montagem via kits importa apenas dois a três empregos indiretos.
“A montagem de veículos nos sistemas SKD e CKD é uma forma de desindustrializar o país. Viabilizar investimentos em grande volume de forma isolada é prejudicial ao Brasil”, afirmou Calvet. A entidade defende que a preferência por produção local seja fundamental para fortalecer a indústria nacional.
Investimentos e políticas fiscais no setor automotivo
Na semana passada, a chinesa BYD inaugurou sua fábrica em Camaçari, Bahia, sua primeira unidade no Brasil. A unidade inicialmente fará montagem de veículos pelo sistema SKD, passando posteriormente a CKD. A montadora também solicitou ao governo federal redução nas tarifas de importação desses kits para 5% para veículos elétricos e 10% para híbridos, atualmente em 20% e 18%, respectivamente.
Calvet criticou essa estratégia, lembrando que as montadoras já instaladas no país fizeram seus investimentos sem condições de alterações nas tarifas. A entidade se posiciona contra eventual redução dessas tarifas, alegando que isso criaria um desequilíbrio competitivo ao favorecer importadores de kits importados em detrimento da produção local.
Dados sobre estoques e mercado de veículos importados
De acordo com a Anfavea, o estoque de veículos chineses no Brasil aumentou de 67,3 mil unidades em maio para 111 mil em junho, refletindo a alta das tarifas de importação. O setor também mostrou crescimento nas vendas de importados, que cresceram 15% no primeiro semestre deste ano, enquanto as vendas de veículos nacionais subiram 2,6% no mesmo período.
Entre janeiro e junho, foram importados 228,5 mil veículos, um aumento de 37,2% em relação ao mesmo período do ano passado, com destaque para a China, que enviou 70,9 mil unidades ao Brasil. A participação dos modelos chineses no total de veículos importados chegou a 6% no período.
Perspectivas futuras e desafios
Calvet reforçou que a Anfavea mantém seu posicionamento de incentivos à produção local e rejeita qualquer política que impulsione a importação de kits. Ele afirmou que, apesar de as novas montadoras serem bem-vindas, é preciso que sua atuação contribua para a geração de emprego e o fortalecimento da indústria brasileira.
Segundo o executivo, o governo anunciou uma nova política industrial, a Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em janeiro de 2024, que busca impulsionar o desenvolvimento do setor automotivo até 2033. Para ele, qualquer mudança nas regras deve ser avaliada com atenção, para evitar prejuízos à cadeia produtiva nacional.
“Queremos que as montadoras que chegam ao Brasil realmente produzam aqui, gerem empregos e tornem a indústria mais competitiva. Estamos abertos ao diálogo, mas com propostas que favoreçam o desenvolvimento da indústria local”, concluiu Calvet.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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