Golpe em gerúndio: o alerta de Eugênio Bucci sobre o governo Bolsonaro
Em um período sombrio da história recente do Brasil, o professor Eugênio Bucci, em seu novo livro “Que Não Se Repita: A Quase Morte da Democracia Brasileira”, oferece uma análise crítica e alarmante sobre o governo de Jair Bolsonaro. Enquanto o mundo enfrentava a pandemia de COVID-19, o então presidente desafiava as recomendações da Organização Mundial da Saúde, promovendo aglomerações e incitando manifestações contra instituições democráticas. Bucci foi um dos que perceberam, desde o início, o risco de um golpe de Estado à luz da retórica militarista e autoritária que permeava o discurso do governo.
Acontecimentos que marcaram o início da pandemia
No dia 11 de março de 2020, a OMS declarou oficialmente a pandemia. Quatro dias depois, Bolsonaro ignorou as orientações de saúde pública e se encontrou com apoiadores, deslegitimando as recomendações e demonstrando uma postura desafiadora. Com a frase “intervenção militar”, os apoiadores do presidente pediam um retrocesso nas instituições democráticas. “O presidente em pessoa extrapolava seus limites funcionais, quebrava o decoro e instava o povo a atacar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal”, relata Bucci em seu livro.
Risco de um golpe de Estado
O autor, que também é professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, menciona que o plano golpista era evidente desde a campanha eleitoral que levou Bolsonaro à presidência. Ele aponta que o candidato sempre fez apologia à ditadura militar, criando um cenário insólito onde um líder extremista se aproveitava das instituições democráticas para miná-las. No quinto mês do governo, Bucci já percebia similaridades com regimes totalitários, como o de Mussolini na Itália, destacando a tentativa de transformar a educação em uma extensão dos quartéis e reescrever a história.
Militarização e a retórica da violência
Enquanto o Brasil enfrentava uma crise sanitária e econômica, o governo promovia um cenário de militarização, facilitando o acesso a armas e desprezando a ciência e a educação. Bucci critica a naturalização da militarização do governo, alertando que isso não apenas desgastava o Estado de Direito, mas também abria espaço para a violência. “O governo criava facilidade para as armas, fazia apologia da violência e abria os caminhos para as milícias”, observa Bucci.
A ineficácia das instituições
De acordo com o autor, o establishment político durante anos ignorou os sinais claros de que o país estava em perigo. Os constantes ataques às instituições eram frequentemente minimizados, e a visão de que tudo funcionava normalmente prevalecia, criando uma inércia perigosa. Bucci critica a falta de percepção sobre a real situação do país, citando que “o pior negacionismo não era o dele, que rejeitava a ciência, os fatos, o saber e o diálogo, mas o daqueles que se negavam a ver que estávamos diante de um agente obcecado em preparar um golpe de Estado”.
O cenário atual e os perigos futuros
Em 2021, Bucci já tinha delineado o que chamou de “golpe em gerúndio”, descrevendo uma democracia em desmanche no Brasil, onde as instituições civis estavam sendo gradativamente destruídas. Com um olhar crítico ao futuro, ele postulou que a democracia poderia estar em um estado terminal, destacando que apenas as fachadas das instituições ainda estavam de pé.
Reflexão final e lição aprendida
Na conclusão de seu livro, Bucci reflete sobre as investigações que levaram Bolsonaro ao banco dos réus e sua escapada por pouco de um golpe mais contundente. O autor considera que o cenário seria muito mais grave caso o presidente tivesse cercado de pessoas competentes e não de “ineptos e incompetentes”. “Por um golpe de sorte, não fomos abatidos por um golpe de Estado”, finaliza Bucci.
O livro de Eugênio Bucci é um alerta sobre o que ocorreu no Brasil e o que ainda pode acontecer caso a sociedade não esteja atenta. Seu olhar crítico oferece uma reflexão necessária sobre a fragilidade da democracia diante de ameaças, e serve como um convite à vigilância cívica no país.
Com informações do Jornal Diário do Povo
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