50 anos do Proálcool: marco na história do setor de álcool no Brasil

Completam-se 50 anos desde a implementação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado em novembro de 1975, uma iniciativa que acelerou a produção de etanol no Brasil, inicialmente para substituir a gasolina importada e enfrentar a crise do petróleo. Desde então, a política pública moldou o desenvolvimento do setor sucroenergético, com impactos duradouros na economia e na matriz energética do país.

O impacto pioneiro do Proálcool na economia brasileira

Segundo especialistas, o Proálcool foi decisivo para consolidar o Brasil como uma potência agrícola e industrial. Professor da Unicamp, Luis Augusto Barbosa Cortez, destaca que o programa impulsionou o crescimento do agronegócio, ao promover o aprimoramento tecnológico na cultura da cana-de-açúcar e a criação de um robusto parque fabril de usinas. “Se o Brasil não tivesse feito o Proálcool, não seria a potência agrícola que é hoje”, afirma Cortez, que organizou um livro sobre os 40 anos da política há dez anos.

Contribuições tecnológicas e desafios iniciais

Na origem, o Proálcool estimulou inovações tecnológicas na fabricação de motores e no processamento agrícola, reforçando a engenharia automotiva nacional. O primeiro veículo movido exclusivamente a álcool, o Fiat 147, foi lançado em 1979. Contudo, o desenvolvimento enfrentou obstáculos, como problemas de corrosão e dificuldades na partida a frio, que exigiram adaptações dos fabricantes de veículos.

Apesar dos percalços, entre 1982 e 1985, o álcool chegou a responder por até 90% das vendas de veículos movidos a combustível no Brasil. “A indústria automotiva acompanhou o movimento, assim como também o fez a expansão do cultivo da cana”, explica Robson Cotta, engenheiro que trabalhou na adaptação dos motores no início do programa.

Altos e baixos: crises e desvios ao longo de cinco décadas

O sucesso inicial foi acompanhado por períodos de crises severas. Nos anos 1980, desabastecimentos, queda na capacidade de manutenção de subsídios e a crise no setor petrolífero reduziram o ritmo do Proálcool. Investigações apontaram desvios de bilhões de dólares em subsídios e a recomendação do Banco Mundial, em 1989, pela extinção do programa.

De acordo com reportagem do O Globo, os custos totais da política, ao longo de seus anos de funcionamento, somaram R$ 15,1 bilhões em valores de 1996 — cerca de R$ 86,5 bilhões atuais. A crise de abastecimento do fim dos anos 1980, aliada ao desinteresse de órgãos públicos na distribuição do combustível, contribuiu para o declínio do programa.

Revoluções tecnológicas e modernização

O avanço mais significativo veio com os motores flex, introduzidos em 2003, que permitiram ao motorista escolher entre gasolina e álcool, melhorando a eficiência do setor. O preço do álcool passant-se a ser competitivo, incentivando o consumo mesmo entre veículos a gasolina, graças ao desenvolvimento de injeção eletrônica, que facilitou o uso do biocombustível.

Segundo Henry Joseph Jr., diretor de Sustentabilidade da Anfavea, a participação do mercado de veículos a álcool ganhou força a partir do fim dos anos 1990, impulsionada pela queda dos preços do combustível. Com esse avanço tecnológico e maior aceitação, o setor passou a enfrentar crises ocasionais, mas sem riscos de descontinuidade.

Perspectivas para o futuro: veículos híbridos e energias renováveis

Hoje, especialistas avaliam que veículos eletrificados e híbridos a etanol podem ser uma importante solução para a transição energética, especialmente em países emergentes. A experiência do programa Proálcool demonstra que o Brasil possui potencial para liderar a produção de biocombustíveis, aliado ao desenvolvimento de uma indústria automotiva sustentável.

*Texto atualizado em 22 de junho de 2025.*

Para mais detalhes sobre os 50 anos do Proálcool, acesse esta matéria no Globo.

Com informações do Jornal Diário do Povo

Publicar comentário