A demência mental – (I)
É uma doença instável e imponderável. E de difícil avaliação e diagnóstico. O humor do doente varia muito, portanto, é invariável. O doente pode estar alegre por alguns minutos, intimidado, às vezes agressivo, macambuzio, triste, taciturno e sonolento. O humor converge para vários cenários seguidamente deixando o doente numa confusão mental enorme, mas sem agressividade. Pode sair abruptamente desse quadro de confusão mental diversa para momentos curtos de alegria e satisfação, projetando sinais, também rápidos, de que está tendo alguma melhora. Contudo, nada disto. Esta satisfação do doente, que chamo de periférica, porque não adentro ao corpo, apenas, certamente em alguns neurônios de forma sensivelmente.
Há mínimos momentos em que o doente recorda-se de fatos e ocorrências do presente. Isto de forma circunstancial, leve, e sem ser profunda. A memória ativa o corpo, especialmente o humor, e o doente lembra-se de pessoas amigas, inclusive citando o nome. A fixação de nomes de pessoas do presente, fugindo um pouco da memória do passado, de forma circular e rapidamente, é um dos cenários mais recorrentes dessa demência mental.
Como a demência mental transforma o doente em uma criança adulta, a repetição de nomes, do mesmo nome, constantemente, é o cenário mais cansativo de se ouvir e de forma sabidamente chata, diria antipática, aborrece demais as pessoas que cercam o doente. Acho que este aspecto da doença é o que mais agride o interlocutor ou os que cercam efetivamente os portadores dessa terrível doença. O doente torna-se irritante e os do seu entorno muitos irritados pela condição de doente de repetir constantemente as mesmas coisas!
As doenças mentais são as mais difíceis de tratamento. E elas não tem cura. Os remédios apenas melhoram o humor dos doentes e torna-os portadores dessa deficiência, também portadores circunstanciais de uma convivência social, em sociedade e na família, melhor e menos agressiva, enquanto dura o efeito do medicamento. E o remédio deve ser prescrito diariamente.
As doenças, todas elas, são instrumentos de trabalho dos médicos ou campos de estudo e análise dos profissionais de medicina. E os remédios, os produtos de que os médicos se socorrem para extinguir, minimizar, melhorar e curar as pessoas das inúmeras doenças existentes no mundo e/ou nas pessoas.
Os médicos estudam e se capacitam para aplicarem os fármacos e curarem as pessoas e/ou amenizarem as doenças sem condição de cura. Mas eles não são deuses. Vão até onde os remédios alcançam a capitulação da doença e/ou a melhora do doente com a aplicação do remédio recomendado. Não alcançam mais ou ultrapassam desse limite.
A psiquiatria é a área da medicina que trata das doenças mentais. Ou aplicada às doenças mentais e a demência é uma delas. Apenas recentemente a psiquiatria teve larga aplicação. E o seu estudo passou a ser aprofundado cientificamente com maior intensidade. E, inclusive, respeito, até entre muitos médicos. O doido do juízo era um segregado. Não se dava a ele o devido cuidado. Mas isto mudou fantasticamente. Hoje o cenário é outro. Há um reconhecimento social da psiquiatria. E um profundo respeito à sua aplicação e objetividade. E dentro dessa objetividade o estudo investigativo científico da demência mental, cujo portadores dessa enfermidade são inúmeros e/ou milhares no Brasil, cuja maioria não dispõe dos remédios capazes de reduzirem a intensidade mórbida da doença. E vagam em sociedade na indiferença dos poderes públicos.
Magno Pires é membro da Academia Piauiense de Letras-APL, advogado da União (aposentado), Ex-Secretário de Administração do Piauí e ex-presidente da Fundação CEPRO, professor, jornalista e ex-advogado da Cia. Antárctica Paulista (hoje AMBEV) por 32 anos consecutivos, Diretor-geral do Instituto de Saneamento Básico do Estado do Piauí.
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